13 de junho de 2009

Foi então que eu desisti de caminhar no encalço das horas.

"Eu ora preferia aquela quietude de coisa não dita, ora encharcava-me de alma de verbo vertendo sangue até desfalecer de tanto viver. Foi então que eu vi, na palidez da sensação que se esboçava ainda ambígua, de pernas trêmulas, no esquivo e pequeno espaço compreendido entre o meu coração e a minha razão, que o sentido que eu buscara para a minha solidão rasgara voluntariamente o peito em algum espinho trôpego esquecido sob a sombra do meu corpo ainda quente das lembranças do dia seguinte. É que o dia seguinte lega lembranças mais vívidas do que todos os dias que se foram; é que a hora passada morre e leva consigo todo e qualquer fogo. Do que não havia, nem jamais houvera, restava uma iminência pesando-me sobre os ombros; do que não havia, nem jamais houvera, restava um instante sufocado sob o que de fato foi - mas ora, o que, de fato, foi? Do que não havia restava tanto, eu nunca contente com meio-parte-nada-quase, eu nunca contente com menos que tudo, eu sempre engolindo faíscas do mundo e devolvendo-me inteira em permuta, eu que não barganho indulgência nem coisa alguma e me permito a cega inocência das paixões sem culpa, eu que já não me sabia, eu não me sabia: eu era a gota de caos a me fazer falta enquanto a vida seguida dolorosamente plácida, eu que não tenho sossego, eu não tenho sossego, eu não quero sossego, eu que já não me cabia, eu não me cabia. Mas era a vez de me recolher no calor de novos planos e de aquecer as mãos entre os dedos longos do tempo nascente, que o tempo sempre chega e parte e castiga e abençoa e pede perdão, que o tempo sempre morre e nasce de mãos enlaçadas às de quem lhe perdoa os desatinos."


*haushaushaushasuahs*