26 de março de 2009

"Ele surgiu na minha vida como um furacão, invadiu meu quarto roxo, jogou meus ursos de pelúcia no chão e colocou em minhas prateleiras seus discos e livros. Apoderou-se da minha cama, dos meus lábios e do meu corpo...Tirava-me o fôlego ao beijar minha nuca, ouvia suas palavras como trovão ecoando em meu peito, tratava-me como sua menina, sua amante, sua mulher...Decifrava meus meandros e meus desejos como nem eu o faria. E eu, entregue, dava-lhe minha mão e permitia que ele me conduzisse pelos seus caminhos ensolarados.
Talvez ele tenha me encontrado mais frágil do que nunca, talvez eu não tivesse o discernimento dos sábios ou nunca antes tivesse sofrido por amor. O fato é que entreguei-me, e o fiz como nunca antes para homem nenhum. Ele chegou sem pedir licença e roubou meu coração, o guardou em seu bolso e, um dia, saiu pela porta da mesma forma que entrou. Sem avisos, sem prelúdios, sem explicações..."

22 de março de 2009

" Não sou mulher de um homem só. Sempre busquei no perfume de outras bocas e nos fluidos de outros corpos respostas que me explicassem. Tu sabes, nunca escondi a verdade.
Não aposte todas suas fichas em mim e nem queira pagar para ver quais cartas trago nas mãos. Eu sou o mais puro blefe, querido. O coringa que antecede a batida.
Entenda: não quero compromisso. Ser livre é a minha lei. Não queira burlar as regras, não as minhas. Não busco um homem para chamar de meu, e apesar de já ter feito o papel de boa moça para alguns, me falta vocação – não tenho mais estômago e o talento é mínimo.
Até entendo sua expectativa, eu também já senti coisa parecida. Mas sinto estragar seus planos, não serei sua exclusividade. Esqueça a idéia de me apresentar aos amigos, de marcar programas em família. É como pedir para que eu vá embora para sempre.
Tu sabe dos homens que me bajulam. Mas confesso que nunca antes, nenhum outro me propôs compromisso. Nunca um elo que não o sexual. Sempre viram em mim o descompromisso do dia seguinte. Você sabe que essas aventuras me atraem, não vou ser hipócrita e dizer que são todos uns aproveitadores. Sou conivente com o crime. Mas o seu gesto, comparado a todos os demais, me tocou. De verdade. Não pensava mais que pudesse despertar isto em alguém. Desaprendi a lidar com essas coisas. Sentimentos, você sabe do que falo.
Porém, quando sentir saudades me procure. E prometa continuar sendo aquele louco que conheci - que só pensava em sexo e desejava o descompromisso do dia seguinte. Enquanto esse dia não chega, vou ficando com os efeitos que a ausência do seu corpo causa ao meu. "

15 de março de 2009

"O que não nos mata nos fortalece. Das verdades relativas, talvez seja essa a mais pródiga em polimentos auto-sujestionantes nem sempre condizentes com a complexidade dos fatos ao menos com aqueles relacionados às pequenas mortes disfarçadas do dia-a-dia, dessas que nos roem os ossos com tanta sutileza que mal deixam entrever que, em pouco tempo, não haverá sobrado muita coisa para fortalecer. Pequenas mortes são persuasivas e dissimuladas, é difícil lhes dizer. Pegam-nos desprevenidos, talvez porque surjam das pequenas dores cotidianas para as quais raramente estamos preparados, tão ocupados somos sempre em nos blindar seletivamente para sofrimentos gigantescos, lancinantes. Pequenas mortes nos interceptam pelas frestas abertas em nossas frágeis armaduras de isolamento emocional e, nos espaços deixados por entre os reveses da vida, vão se entalhando, se infiltrando no inconsciente até se tornarem um estilo de viver ou de quase-viver. Porque pequenas mortes aprisionam justamente o que caracteriza a vida em sua acepção menos fisiológica, porém mais importante: ter ou buscar um motivo lúcido pelo qual seguir vivendo. Pequenas mortes têm mãos geladas que nos esmorecem os ímpetos do espírito e nos fazem reféns de nosso próprio medo - medo de sentir, medo de sofrer, medo. Medo.
Pequenas mortes são paradoxais- insidiosas, morre-se de dentro para fora. Testam os limites do coração, desafiam a perseverança humana em se permitir acreditar que ainda vale a pena acreditar, mesmo sem saber exatamente em quê. Tolhem o livre arbítrio dos nossos sentimentos, porque pequenas mortes são egoisticamente racionais: se não há o que sentir, não há pelo que sofrer, e já se sofreu tanto nessa vida, qual o sentido em sofrer mais, não é mesmo? Trancamos-nos em esquifes de ceticismo indiferente e seguimos assim, no piloto automático, levando. Apenas levando. Simplesmente porque é mais fácil embora, na verdade, o mais fácil seja indiscutivelmente o mais difícil.
E apesar de tudo algumas dessas pequenas mortes, por incrível que pareça, podem ser a tábua de salvação capaz de nos resgatar da castração emocional imposta pelo medo do sofrimento. A capacidade de sentir talvez seja a moeda mais real nesse mundo de valores a cada dia mais irreais, e alguns sofrimentos são inevitáveis e até mesmo necessários para que não nos desumanizemos por completo. São as pequenas coisas que fazem a vida doer, mas a dor existe para gritar que algo não vai bem e, certas horas, para matar a dor, é preciso morrer com ela. E são essas, as pequenas mortes deliberadas no intuito de matar o que nos faz morrer, os ritos de passagem que proporcionam os grandes renascimentos pessoais. São essas as pequenas mortes que podem salvar uma vida - aquela vida que, muitas vezes, nem lembramos que ainda temos."

13 de março de 2009

Com determinada frequência que não sei precisar qual, tenho uma vontade - quase uma necessidade - avassaladora de mudar tudo radicalmente. Arrancar, rasgar, queimar e ver descer descarga abaixo as páginas já escritas de uma vida que não vivo, apenas presencio. Porque há machucados que não se curam, não cicatrizam. E, machucados, cada um entende dos seus. As minhas cascas coçam e as unhas machucam a tentativa de alívio.
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Porque hoje me peguei pensando em coisas velhas que já passaram mas que voltaram recentemente e incomodaram um pouco meu sono... aconteceu que finalmente percebi o quanto fui idiota e o quanto deixo que as pessoas me façam de idiota. Mas, nada como se dar conta das coisas e mudar de atitude né? Eu gosto dessas epifanias, na hora sempre tenho vontade de morrer mas depois vejo que são elas que me fazem evoluir.

9 de março de 2009

Ela não entendia as teorias sobre jardins e borboletas. Achava aquilo uma baboseira na verdade. Talvez nunca conseguisse compreender o que aquilo queria dizer, se dissesse alguma coisa. Da mesma maneira que não compreendia, talvez nunca amasse. Sim, gostava dos beijos, das noites, da maneira como a lua sempre aparecia nos momentos de silêncio, mas não conseguia amar quase nada. Amava falar com casos antigos que já estavam rumo à Viena, amava seus tédios nos quartos. Amava as músicas que faziam sofrer os ouvidos. Amava seus sonhos. Ah, isso ela amava, de maneira egoísta até. Mas amava, verdadeiramente. Talvez essa fosse sua sina. Amar sonhos, e mais nada.

8 de março de 2009

acredito que errado é aquele que fala correto e não vive o que diz

7 de março de 2009

Na verdade, na cara de pau, numa expressão clara de capa de livro velho, o que eu quero mesmo é te deixar falando, e repetindo, e questionando, e discutindo, pra ver se entende, pra ver se descobre, por fim, o que é que eu vivi das coisas que você não sabe.
Posso falar. Posso te pegar no pulo, na certeza, na mesma cara falida de prepotência, de insaciedade. Para ver sair dos teus olhos sujeiras que não possam ser varridas. E, escute; eu nem te quero escondido. Pode ficar aí, aí onde você pensa ser seu refúgio. Eu te vejo emparedado, petrificado, num sorriso pronto e programado para dias como estes. Só porque acha, suspeita, lá no fundo sente, que eu vou aparecer também. No meio da multidão que ferve, que queima quase tanto como eu. Que de cinzas frias não vivo mais nem por uma hora. Que de pueira de passado, não me faço mais vulnerável ao vento.
E você vai saber. Vai descobrir, também sem vergonha na cara, que o que me pulsa, o que me põe de pé, não é a claridade das coisas possíveis de serem ditas. Mas a imundice do que não precisa ser explicado.

3 de março de 2009


E se o futuro for apenas uma ilusão?
Pior! E se ele for o passado ao contrário?
Viver como carangueijo ou quebrar este espelho que chamamos de realidade?
*entende, né?*