8 de outubro de 2008

"Ah, tu só quer que eu me comunique em último caso? Pra não lembrar que eu existo? É, minha existência te perturba. Que novidade.Ah, tu não quer ouvir minha voz? Só porque lembra que nunca vai me esquecer? Só porque vê que é um fraco, não pode me sentir que desaba, em prantos, voltando à estaca zero? É por isso? Não, não quero ser sua amiga, tolinho. Não quero ser sua amiga. Não temos nada em comum, lembra? Só quero que as coisas terminem direito, com os pontos nos lugares dos pontos. Nada de ponto -e- vírgula, nada de parágrafo-nova-linha. Só um ponto final, que já devia ter chegado há muito tempo se não fosse a lembrança de ti em mim, de sua boca na minha, do seu corpo no meu corpo. Se não fosse a porra do sexo. Se não fosse a distância que me enganava, me cegando à realidade que saltava aos olhos de todos, menos aos meus: era só sexo. Era só carne. Eram só beijos e línguas e mordidas e sêmen e fluidos, eram só gemidos e sorrisos. Era só sexo. E não venha chorar nos meus ouvidos agora. Sempre foi tarde, desde o primeiro dia, desde sempre. Sempre foi errado e inútil, mas me recusava a aceitar. Não, sempre não. O começo era bom, mas era pra ter sido um começo-fim, sem esse meio que me fez perder anos e anos em meses. Sem esse meio que me fez voltar pra tentar te acompanhar e te trazer pra luz. AH, mas eu também não queria que o fim chegasse. Quando se aproximava, me agarrava a você, chorando como uma estúpida, implorando não me deixa! Por favor! sem nem saber porquê. Na verdade, cada vez que tu ameaçava me deixar, era um misto de desespero e alívio. Teria minha liberdade de volta! A liberdade que sempre tive, desde que saí do útero da minha mãe. Liberdade que tu desesperadamente tentou tirar. Liberdade que tu quase tirou, junto com a minha vida. Junto comigo inteira. Junto com tudo que perdi por sua causa. Agora tu voltou pra sombra, sozinho, desconsiderando tudo que passou. Você não passa de um fraco. Um fraco que joga fora todas as lembranças, queima pontes e que quer começar tudo de novo, errando de novo, com outra pessoa que se preste a dedicar todo o tempo a ti. Outra pessoa que abdique dela ela mesma pra ficar contigo. Eu fingia, sabe? Durante muito tempo brinquei de menininha satisfeita e meiga, fingindo que estava feliz contigo, enquanto ruía por dentro, enquanto queria me pintar com cromo, tomar drogas e sair nua gritando hakuna matata pela rua XV. Enquanto meu mundinho fervilhava, gritava, queimava dentro de mim, eu soltava fumaça pela boca e disfarçava o gosto com um halls. Disfarçava pra você não sentir o gosto de ácido sulfúrico. Disfarçava pra ti não me ver queimando. Disfarçava porque estava idiota. Muitas vezes chorei, enquanto tu estava dormindo, respirando nas minhas costas, achando que tudo estava bem. Chorei por estar num lugar a qual não pertencia, que me fazia mal, que me fazia definhar, que me fazia querer morrer, gritar, subir na mesa e acordar todos os medíocres com quem tu convive. Convive com medíocres porque não passa de um medíocre. Um medíocre que de tão afundado na mediocridade, não a vê. Tu queria destruir os meus dons, queria que eu fosse nula e inválida, queria que fosse transparente aos olhos alheios, porque é tão medíocre que não os entende. Tão medíocre que me queria igual. "