19 de abril de 2009

"Talvez não fizesse mesmo idéia de como é se sentir completamente desvirada. Como se alguém tivesse enfiado as mãos dentro de sua alma, só para arrancar um pedaço grande daquilo que ela sempre guardou secretamente. Mas talvez ele não soubesse disso.
E o que vale a pena, se não o amor, é a dor desenfreada que ela atira contra o próprio corpo na esperança de ficar imune à palavras pela metade. E acredite, tudo o que ela tentou por horas foi encontrar uma maneira simples de dizer como esse pedaço grande que lhe arrancaram, tem lhe feito falta. Ela sabe disso, pois acorda de madrugada com todas as coisas que queria dizer na ponta da língua. E mal consegue pegar no sono com tantas idéias gritando em sua cabeça, tentando a convencer de que dizer tudo isso para ele seria como enfiar não só uma mão no fogo, mas as duas de uma vez. E assim, mesmo que chorasse um oceano, não poderia apagar o fogo que tomaria conta de seu corpo inteiro.
De que adianta o dizer como se sente com tanto sentimento implodindo dentro dela? Aliás, do que adianta falar mais uma vez sobre a chuva que não caiu, sobre o mar que não secou e sobre o verde da grama? E eu sei que pode parecer estranho, mas é isso o que ela quer. Quer ficar de pé na frente dele, o olhar com toda a profundidade que tem e depois tocá-lo. E quando eu digo 'tocar' quero dizer apenas ' tocar' mesmo. Definitivamente sentir.E quanto à ele, as incertezas continuam fazendo do amanhã obra do acaso. Mas afinal, será que ele não sabe que o amanhã não chega sem o hoje? E o que ele vai dizer depois querendo compensar o tempo perdido?
Porque de qualquer forma, os dias continuam passando, os aviões continuam decolando, e os sonhos continuam nascendo."