16 de abril de 2009

Eu não me espanto com quase nada nessa vida. Mas ainda me espanto com essas novidades que não respeitam geografia e ultrapassam os circuitos eletrônicos e cerebrais para se estatelarem nos sentimentos, mesmo sabendo que sentimento é naturalmente wireless - vai e vem num fluxo desordenado que desafia a gente e faz inusitados pontos de acesso sintonizarem na mesma frequencia, isso eu sei. Porém, pense comigo: nessa faixa estreita que afina a frequencia entre transmissor e receptor, quando devidamente sincronizados, o resultado é a manutenção de um unico canal lógico, certo? Um unico canal lógico. Lógico?
Olhe bem aí para o seu monitor. O que voce vê? Eu vejo o seu rosto colorido, pontilhado de infinitos pixels e me custa crer, me custa crer que é tamanha a distância, é um espanto. É dificil ser blasé quando o mundo fica pequeno até caber num www para se espalhar nessa tal de banda larga e, mesmo assim, ainda continuar a ser esse mundão grande de Deoz. Antes, digital tinha o tamanho das pontas dos dedos; hoje, os dedos não cabem mais nas nossas mãos, os dedos criaram olhos e pés que se emaranham alucucinados por entre os zeros e uns dessa selva binária. Agora me diga, o mundo ficou maior ou menor?
Olhe bem aí para o seu monitor. Você me vê? A resposta é: não. O que você vê é uma projeção espectral que alguem inventou para a gente acreditar que não está tão só. O que você vê não respira e não tem cheiro, não sonha e não dá risada. O que você vê, o que você lê, são os pensamentos convertidos na estética frieza desses signos gráficos, um pobre esboço de mim aí nesse quadradinho no canto da sua tela - por maior e melhor que seja a sua resolução. Os meus olhos são cristal líquido distinto do LCD. Portanto, me dê licença de fechar essa janelinha em plano americano e de desconectar essa falta que nos faz um pouco menos de tecnologia, e vem cá me ver - em carne, osso e algo mais. Porque eu não consigo raciocinar em bits e bytes, e o meu coração ainda faz tumtum.