"O que não nos mata nos fortalece. Das verdades relativas, talvez seja essa a mais pródiga em polimentos auto-sujestionantes nem sempre condizentes com a complexidade dos fatos ao menos com aqueles relacionados às pequenas mortes disfarçadas do dia-a-dia, dessas que nos roem os ossos com tanta sutileza que mal deixam entrever que, em pouco tempo, não haverá sobrado muita coisa para fortalecer. Pequenas mortes são persuasivas e dissimuladas, é difícil lhes dizer. Pegam-nos desprevenidos, talvez porque surjam das pequenas dores cotidianas para as quais raramente estamos preparados, tão ocupados somos sempre em nos blindar seletivamente para sofrimentos gigantescos, lancinantes. Pequenas mortes nos interceptam pelas frestas abertas em nossas frágeis armaduras de isolamento emocional e, nos espaços deixados por entre os reveses da vida, vão se entalhando, se infiltrando no inconsciente até se tornarem um estilo de viver ou de quase-viver. Porque pequenas mortes aprisionam justamente o que caracteriza a vida em sua acepção menos fisiológica, porém mais importante: ter ou buscar um motivo lúcido pelo qual seguir vivendo. Pequenas mortes têm mãos geladas que nos esmorecem os ímpetos do espírito e nos fazem reféns de nosso próprio medo - medo de sentir, medo de sofrer, medo. Medo.
Pequenas mortes são paradoxais- insidiosas, morre-se de dentro para fora. Testam os limites do coração, desafiam a perseverança humana em se permitir acreditar que ainda vale a pena acreditar, mesmo sem saber exatamente em quê. Tolhem o livre arbítrio dos nossos sentimentos, porque pequenas mortes são egoisticamente racionais: se não há o que sentir, não há pelo que sofrer, e já se sofreu tanto nessa vida, qual o sentido em sofrer mais, não é mesmo? Trancamos-nos em esquifes de ceticismo indiferente e seguimos assim, no piloto automático, levando. Apenas levando. Simplesmente porque é mais fácil embora, na verdade, o mais fácil seja indiscutivelmente o mais difícil.
E apesar de tudo algumas dessas pequenas mortes, por incrível que pareça, podem ser a tábua de salvação capaz de nos resgatar da castração emocional imposta pelo medo do sofrimento. A capacidade de sentir talvez seja a moeda mais real nesse mundo de valores a cada dia mais irreais, e alguns sofrimentos são inevitáveis e até mesmo necessários para que não nos desumanizemos por completo. São as pequenas coisas que fazem a vida doer, mas a dor existe para gritar que algo não vai bem e, certas horas, para matar a dor, é preciso morrer com ela. E são essas, as pequenas mortes deliberadas no intuito de matar o que nos faz morrer, os ritos de passagem que proporcionam os grandes renascimentos pessoais. São essas as pequenas mortes que podem salvar uma vida - aquela vida que, muitas vezes, nem lembramos que ainda temos."
Pequenas mortes são paradoxais- insidiosas, morre-se de dentro para fora. Testam os limites do coração, desafiam a perseverança humana em se permitir acreditar que ainda vale a pena acreditar, mesmo sem saber exatamente em quê. Tolhem o livre arbítrio dos nossos sentimentos, porque pequenas mortes são egoisticamente racionais: se não há o que sentir, não há pelo que sofrer, e já se sofreu tanto nessa vida, qual o sentido em sofrer mais, não é mesmo? Trancamos-nos em esquifes de ceticismo indiferente e seguimos assim, no piloto automático, levando. Apenas levando. Simplesmente porque é mais fácil embora, na verdade, o mais fácil seja indiscutivelmente o mais difícil.
E apesar de tudo algumas dessas pequenas mortes, por incrível que pareça, podem ser a tábua de salvação capaz de nos resgatar da castração emocional imposta pelo medo do sofrimento. A capacidade de sentir talvez seja a moeda mais real nesse mundo de valores a cada dia mais irreais, e alguns sofrimentos são inevitáveis e até mesmo necessários para que não nos desumanizemos por completo. São as pequenas coisas que fazem a vida doer, mas a dor existe para gritar que algo não vai bem e, certas horas, para matar a dor, é preciso morrer com ela. E são essas, as pequenas mortes deliberadas no intuito de matar o que nos faz morrer, os ritos de passagem que proporcionam os grandes renascimentos pessoais. São essas as pequenas mortes que podem salvar uma vida - aquela vida que, muitas vezes, nem lembramos que ainda temos."