"Aperte os punhos, meu bem.
Aposto que irá se zangar ao perceber que não me fez bem.
Mas agora chore. Primeiro eu quero que você se estoure!
Sinta-se perdido em suas idéias fracas. Argumentos banais para um homem passivo demais. Porque a verdade é que eu odeio isso em você. É, eu odeio essa sua cara de assustado quando eu digo algo sobre a mim. Sabe aquela expressão intensa que escancaro em meus lábios ao sentir-me contente demais? Mas não por você. Nunca é por você. E sabe aquele dia em que eu disse que iria morrer de saudade se você não batesse em minha porta? Pois é, eu estava mentindo. Sabia desde o começo como seria a nossa despedida. Você aí parado cavando um buraco em seu peito e eu vestida de preto. Sim, de luto. Mas não por você, é claro. Eu é que morri. Aquela menina que você abraçava só com os dedos do pé enterrou-se no quintal, afogou-se na piscina, atirou-se da janela e voou. Porque meu bem, renascer é como aprender a voar. E você não sabe, mas eu sei a leveza que isso dá.
Mas agora que já arranquei de mim o vestido preto e deixei-me nua em frente ao teu desespero, peço que feche a porta e leve consigo apenas o meu silêncio."