'Não quero saber quem tu é nesse instante, quem gostaria de ser amanhã e do que sente falta de antes. Não quero mais medir tuas decepções e peneirar as tuas expressões, para ver se te acho inteiro.
Mas parece que você insiste em continuar no meu quarto, e que quando abrir um livro, lhe verei me encarando com teu ar blasé. Você diria: 'O que eu posso fazer, baby? O que eu deveria ter feito?' Mas é tarde demais. Eu não acredito mais em ti. Então pare de beliscar as bordas do meu coração. Coloque tuas idéias fracas no devido lugar, por favor. Aceite a parte que lhe resta e o preço por ter se calado enquanto eu lhe chamava, e vá embora de vez. Coloque as palavras covardes no devido lugar e, por favor, desvie teus olhos de mim.
Eu tive que reciclar pensamentos, sentimentos, lembranças e poemas para me livrar da tua ausência. Mudei o caminho para não me encontrar com a tua confusão. Troquei o cd para não te ouvir calado. Para não te ver me ouvindo gemer. E depois de horas, dias, semanas e meses de espera transformada em textos viscerais, larguei as cartas no banco de trás. Me desfiz de laços, abraços, descosturei emoçõezinhas e deletei tuas frases do meu diário. Desfiz.
Parei de te olhar para não me ver olhando você. Parei de te olhar para não te ver cego, sumido, escondido; dizendo que tem medo e que é covarde. Parei.
Eu acelerei o motor, apaguei fogo com gasolina e rasguei a minha boca grudada na tua, para não sentir-me congelar com o espasmo da tua despedida. Finalmente.
Eu poderia ter te amado para sempre e poderia te desejar ao meu lado até que o meu coração saísse inteiro do meu corpo. Mas há sempre o momento para isso ou aquilo, e houve, enfim, o momento para pintar de branco o teu sorriso na minha fotografia.
Então, querido, não venha agora cobrar a minha presença em teu olhar, se foi a tua ausência que me fez sentir, rasgar e partir. Eu gostaria que soubesse por mim, que a última vez que fumei o teu cigarro foi também a última vez que senti teu gosto confuso de moleque mal-criado.'